

Duas cidades, tão diferentes entre si, uma é agitada e romântica, os bistrots, as esplanadas, as baguettes e o pain Paiou, Le Marché aux Puces, as pontes, o Louvre...
A outra fica no "fim da terra" a noroeste, cidade pacata de gauleses, bretões e tradições celtas, com os seus nomes medievais, Gwenaëlle, Yann, Anne-Gaëlle, falésias verdes chicoteadas pelo mar que apenas por escassas milhas nos separa da Gran-Bretanha...
Paris, Rue de La Roquette, boémia, sempre acordada, por baixo do pequeníssimo estúdio com
mezzanine a livraria dos meus primeiros Pagnol, Balzac, Bellemare, lá ao fundo a Bastilha e a Rue Beautrellis, onde viveu Morrisson, e do outro lado o cemitério Père Lachaise onde visitei a sua campa, a
soupe a l´oignon e
boeuf sauce tartare em Montmartre e a acompanhar os típicos pintores lá fora na praça...
Morlaix, o famoso Viaduc,
diabolo fraise, crepes e cidra, os mexilhões frescos às segundas-feiras, o mercado e a manteiga caseira embalada na hora, os campos de alcachofras e a chuva quase sempre presente, as longas caminhadas nas falésias, o fundo do mar que palmilhei durante a descida da "maré dos cinquenta anos". Rue Basse, o rígido
grand père Raymond, jornalista que fora preso político durante a guerra de 14/18 impulsionador dos hábitos literários na família Guivarch, a sua casa conservada intacta com a data da sua morte assinalada no calendário desde então, assustadora com os seus três andares estreitos, a cave abandonada povoada por damas antigas feitas por si com conchas do mar de Finistère, a igreja a um metro da porta, e por trás a enorme felicidade na Rue de Paris, os filmes Mulheres do Sul, Manon des Sources, Les Visiteurs, a tranquilidade, por baixo a loja de brinquedos com as suas fantásticas casas de bonecas, e há dezasseis anos o dia mais feliz de uma vida... o nascimento de um filho.
Anos que me moldaram e me enriqueceram o ser, cinco anos que estarão vivos em mim a tout jamais...