terça-feira, 8 de julho de 2008

DIAS ASSIM



Há um certo tempo que andava a engolir em seco, estava habituada, já engolira muitos sapos vivos, e ainda estariam alguns por digerir...
A vida ensinara-a a ser bastante optimista, por isso não se ia abaixo facilmente, a noção sobre os verdadeiros problemas de um ser humano estavam bem presentes em si, estava consciente de fazer parte dos milhões que têm uma vida normal, normalíssima e isso ser uma grande sorte.

Queria tanto que aquela horrível bola no estômago desaparecesse, o sol brilhava lá fora, não queria saber disso, não condizia muito com o seu estado de espírito, pensou no jeito que lhe daria um dia cinzento de chuva, punham-na sempre bem-disposta, não como a boa disposição de um dia quente de verão quando é "obrigatório"estar sorridente, os dias de chuva eram mais como uma canção cantada pela terra e não pelo homem, a alegria era diferente, mais solitária, e só sorri sinceramente quem sabe sorrir num dia cinzento, e ela sabia...
Pensava em tantas coisas ao mesmo tempo, queria sair dali mas sem mexer os pés, a cidade fervilhava de gente, pensava em todas as coisas que lhe podiam alegrar, coisas gigantescas como um sorriso, um gesto, uma palavra...
Sofre-se mais quando não se sabe fazer sofrer, hospeda-se a dor até coração dizer basta e a cabeça quase rebentar de tanto pensar nas maneiras de expulsar o "uninvited guest". Decidiu naquele momento ignorar tudo o que lhe fazia mal, como a vã espera por momentos que nunca mais se repetiriam, os desejos não concretizados, mas acima de tudo, as desilusões por que passara...
Continuava a pensar que o mundo estava cheio de gente com tristezas maiores que a sua, muito maiores, mas naquele dia sentia-se tão sozinha, desejou deixar-se levar pela fraqueza, a bola no estômago começara a desaparecer aos poucos, as lágrimas iriam conseguir soltar-se finalmente, então levantou-se, despiu-se e correu para o duche confundindo quase todas as lágrimas do seu corpo com a água morna...

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