sexta-feira, 16 de maio de 2008

UM MANUSCRITO LARGADO AO VENTO


"Qual corredor escorregadio num vértice polar...Sirvo-me das minhas mãos para segurar o varão da escada, mas será que não é ele que me está a agarrar?
Encontro uma pessoa que me fala em pêssegos, laranjas e na essência da vida em si...

- Sonha... Sonha... Não dês SONHOS... SONHA...
Qual lagarto invertebrado com um pedaço de pão numa mão e um cigarro na outra, vou observando o seu estado sólido...
A pessoa magistral vai dizendo suavemente:
- Sei quem tu és, somos feitos da mesma bolha de água...
Escuto comboios a zumbirem e lembro-me de calcorrear rochedos visualizando o mar...
Lembro-me duma frase que perdura num desses rochedos desde final dos anos 30...
- Must catch the bus; I'm so fucking tired...
E de repente, o verde matinal percorre o meu pensamento de uma forma fugaz...
A pessoa continua a murmurar na minha mente:
- Sei quem és tu.... nascemos na mesma bolha de ar...
Levito qual monge tibetano numa grandiosidade imensa que me turva o olhar e mostra a minha pequenez diante do mundo, no qual achamo-nos quase DEUSES:
- One more on his life...
Vão dizendo dois velhos um para o outro...
Qual pardal ferido, entro num voo crescente sem encostar asas ao vento... A maré que me banhe...
Sinto o ar gélido no peito, continuo a ouvir a entidade suprema:
- Não te esqueças que eu sirvo as pessoas no essencial e nunca no supérfluo, mas adoro perder-me nos mundos que crio também..
Qual movimento perpétuo agarrado a uma guitarra, vou segurando a minha mala como se se tratasse da caixa de pandora...
A pessoa continua a dizer-me:
- Respira... Breathe in and out... Les rêves sont réeles.. RÊVE...
A pessoa está a olhar para mim e a observar os meus olhos com uma exactidão imensa e vai dizendo:
- Was wuenschst du in leben?
Eu lembro-me de nunca ter visto neve...
Lembro-me de sonhar com ideias concretas, mas o concreto pode ser muito obsoleto...
- Papel... Papel.. Papel... Qual caixa de fósforos desmesurada...
Vai balbuciando uma senhora de meia idade que passa ao de leve por mim...
- Sou uma celta que percorre mentes convulsas... Sou uma druída que entoa os seus preparativos para o meu interior...
Tenho uma casa pequena, but what the fuck, it's mine, isn't it?
E palavras borbulham num crescente innuendo de cores multiformes...
- Aiiiiiiiiiiiiiiiiii..Quem me dera caminhar como tu...
Vai balbuciando um rato para um gato...
De repente aparece uma tesoura que corta o papel e forma pequenos origami de sonho e sem interrogações ou exclamações, escuto isto em uníssono:
- Sou um grito, sou um CHORO, mas acima de tudo sou um RISO..."

FIM

Para ti

Sem comentários: